As margens estão mais apertadas, mas situação ainda é favorável ao produtor de leite

O cenário internacional continua turbulento em função das guerras que acontecem na Europa e no Oriente Médio, além das discussões sobre as novas tarifas de importação impostas pelo governo norte americano, que podem promover mudanças nos fluxos de comércio internacional. No entanto, nas últimas semanas, iniciativas de negociação bilateral de alguns países com os Estados Unidos sinalizaram para a flexibilização de algumas tarifas, trazendo certo alívio para os mercados.

O dólar segue com ligeira desvalorização e as perspectivas de crescimento econômico mundial, que impactam a demanda por lácteos, permanecem positivas, com destaque para o crescimento previsto para o sul e sudeste da Ásia e África. Já o crescimento previsto para a Europa Ocidental é o menor entre todas as regiões do mundo, ilustrando a dificuldade do Velho Continente em construir uma trajetória sólida de prosperidade econômica. O Brasil segue como um país com potencial para se beneficiar de uma eventual disputa entre os Estados Unidos e seus parceiros comerciais, por ter uma pauta de exportação do agronegócio muito semelhante à norte-americana. Portanto, pode ocupar o espaço das exportações daquele país em caso de retaliações de outras nações.

Os preços de lácteos no mercado internacional seguem em moderada recuperação, apesar da ligeira queda observada nos últimos leilões internacionais. Isso mostra que, ao lado da ligeira recuperação da produção nas principais regiões produtoras do mundo, há uma demanda relativamente consistente que sustenta os preços. A China, maior importadora mundial de lácteos, aumentou significativamente suas compras nos primeiros meses de 2025 por antecipação de compras em função das barreiras comerciais impostas pelos Estados Unidos, e por alguma frustração na produção doméstica de leite e derivados.

O cenário macroeconômico brasileiro segue estável, com expectativa de estabilização da inflação, embora ainda acima do teto da meta estabelecida pela equipe econômica. O enfraquecimento do dólar favoreceu a apreciação do Real nas últimas semanas, trazendo a inflação anual medida pelo IPCA de volta para a casa dos 5% ao ano. A perspectiva de crescimento econômico para 2025 continua positiva. No entanto, as elevadas taxas de juros, o desequilíbrio fiscal e os desafios institucionais brasileiros podem reverter esse cenário.

A disponibilidade doméstica de leite e derivados aumentou nos últimos meses, resultado do crescimento das importações e da produção doméstica. As importações somaram 6 milhões de litros equivalentes diários, em média, nos últimos 12 meses encerrados em março de 2025. A captação pelos estabelecimentos formalizados atingiu 70 milhões de litros/ dia. Com isso, a disponibilidade doméstica totalizou 76 milhões de litros de leite, o maior valor observado da série histórica, resultado de um crescimento de 3,0% em um ano. As importações ainda crescem, mas a um ritmo bem mais moderado, 3,5% no período. A captação aumentou 2,8%, ilustrando um maior equilíbrio nos componentes que compõem a disponibilidade total de lácteos no país.

Apesar de o cenário econômico ainda se apresentar como favorável, a demanda por lácteos tem se arrefecido nos últimos meses. O aumento dos custos de lácteos ao consumidor permanece acima da inflação oficial nos últimos doze meses, ainda que tenha caído no mês de maio. Isso limita a demanda e a capacidade de repasse de preços entre os elos da cadeia. Assim, mesmo durante a entressafra de leite, houve queda no preço pago ao produtor no mês de abril. Os Conseleites sinalizam para nova queda no mês de maio. A forte dependência do mercado doméstico reduz as possibilidades de expansão do setor. No entanto, iniciativas relevantes no Sul do Brasil, com agregação de valor a produtos e início de exportações, surgem como esperança de novos tempos para o agronegócio do leite.

Os custos de produção cresceram a um ritmo menor que os preços pagos ao produtor nos últimos doze meses, mantendo os termos de troca ainda favoráveis ao produtor. Mas, eventuais pressões nos custos e o menor crescimento da demanda por lácteos podem representar desafios para a recuperação das margens dos diferentes elos das cadeias de lácteos nos próximos meses.