Maior oferta de leite no Brasil e no mundo reduz preços
18-09-2025 14:45:57 Por: CILeite. Foto: Pixabay

A produção global de leite tem registrado um crescimento contínuo nos principais exportadores, com boa expansão nos Estados Unidos, Europa e América do Sul. No segundo semestre, a produção de leite também cresce no Hemisfério Sul devido a fatores sazonais. Portanto, essa oferta relativamente mais forte coloca alguma pressão baixista nas cotações. No leilão GDT de 16 de setembro o leite em pó integral fechou em queda, cotado a US$3.790/tonelada. Ainda é um bom patamar de preços, mas os indicadores no mercado futuro sugerem pequeno recuo até o final do ano.
No mercado brasileiro, a balança comercial de lácteos segue com importações elevadas, porém menores que as observadas no ano passado. De janeiro a agosto, o volume importado recuou cerca de 6% na comparação com o mesmo período de 2024.
Em contraste, a produção nacional de leite inspecionado está acelerada, como reflexo da melhor rentabilidade nos últimos anos. O segundo trimestre de 2025 registrou um expressivo crescimento de 9,3% em relação ao mesmo período de 2024, sendo o décimo trimestre consecutivo de expansão na produção. O Brasil atingiu um recorde histórico na série anualizada de 12 meses, com 26,1 bilhões de litros produzidos e a perspectiva é que esse volume continue a subir, sobretudo com investimentos de grandes produtores. Esse incremento na produção resultou em maior disponibilidade interna de leite, afetando negativamente as cotações.
Os preços dos derivados lácteos no mercado atacadista mostram uma tendência de recuo. Mercados como o de leite UHT, queijo muçarela e leite em pó industrial estão desacelerando. O mercado de leite Spot está particularmente fraco, com muita oferta disponível e pouca demanda.
O preço pago ao produtor de leite, em termos reais, começou o ano em bom patamar, mas exibiu um movimento de declínio a partir de abril, em plena entressafra, indicando que a demanda por lácteos não cresceu no mesmo ritmo da oferta. O cenário da para o final do ano deverá ser mais desafiador, mas não tão desfavorável quanto o segundo semestre de 2023, que foi marcado por margens muito apertadas e manifestações de produtores.
No âmbito de custos de produção, o contexto permanece favorável. Os preços mais baixos de milho e soja ilustram uma boa oferta e colheita brasileira da safrinha chegando ao fim, além de perspectivas positivas para as safras dos Estados Unidos. Não se prevê uma forte pressão de alta nestes mercados, mas sugere-se atenção ao clima e às margens apertadas no setor de grãos, somado ao crédito rural escasso, atrasado e com taxas de juros mais altas. São fatores
que podem prejudicar o plantio para a safra 2025/2026 e impactar os preços. Além disso, existe um risco no mercado de fertilizantes devido à dependência brasileira da Rússia, que fornece cerca de 27% das importações nacionais. Apesar dos bons estoques atuais, é fundamental monitorar essa situação, visto que o segundo semestre geralmente apresenta pressão de valorização nesse grupo.
No âmbito macroeconômico, as previsões de crescimento do PIB estão piorando, conforme o Boletim Focus, do Banco Central. Para 2025, as projeções indicam expansão de 2,16% para o ano corrente e 1,80% para 2026, mostrando um cenário econômico pior que o observado nos últimos quatro anos. Apesar das previsões de queda da taxa Selic e da inflação para 2026, o contexto segue desfavorável a uma expansão mais robusta do PIB e ao estimulo do consumo.
Finalmente, o ambiente externo traz um cenário de incertezas que merecem atenção para os próximos meses. A piora no cenário político da Argentina, com impactos na taxa de câmbio, deve ser observada com atenção, já que é nosso principal parceiro comercial no mercado de leite. Estados Unidos e China também seguem na mesa de negociação e os desdobramentos desse acordo comercial podem ter fortes impactos no mercado brasileiro, que tem uma grande dependência da China em diversas commodities.
Além disso, os recentes posicionamentos do governo Trump sobre o Brasil, geram uma grande incerteza sobre a relação comercial dos dois países e eventuais exigências de concessões, que podem inclusive recair sobre o setor lácteo brasileiro. Portanto, o atual cenário, tanto interno quanto externo, sugere prudência e cautela ao longo dos próximos meses.
As informações são do CILeite.