Oferta elevada e consumo interno fraco impõem conjuntura de mercado desafiadora
20-10-2025 15:41:02 Por: CILeite. Foto: Pixabay

A produção mundial de leite continua em ritmo acelerado nos principais países exportadores. Os incrementos de produção nos últimos meses foram os maiores desde meados de 2021. Destaques para os Estados Unidos, com o maior volume absoluto de crescimento e para os nossos vizinhos, Argentina e Uruguai, que vêm registrando elevação mensal contínua desde novembro de 2024. Esse cenário tem contribuído para o recuo nas cotações internacionais dos lácteos. Os últimos leilões do GDT (Global Dairy Trade) registraram novas quedas nos preços do leite em pó, do queijo muçarela e da manteiga.
Outro fato importante é a acentuada redução no preço ao produtor na Argentina, que iniciou o ano em patamares próximos ao Brasil e Uruguai, de US$0,42 por litro em média, e atualmente está em US$0,36, contra US$0,43 no Uruguai e US$0,47 no Brasil. Esse cenário de preços internacionais pode estimular ainda mais as importações de lácteos, que em setembro tiveram novo aumento. Os volumes importados, que estavam em patamares entre 160 a 170 milhões de litros, saltaram para 192 milhões no último mês, um aumento de 20% sobre agosto, sendo o maior volume registrado desde fevereiro. Esse dado surpreendeu o mercado, que esperava uma redução nos volumes importados no segundo semestre, devido às quedas nos preços internos e ao elevado crescimento da produção nacional, que já tem gerado uma oferta adicional, não acompanhada pela demanda.
Mesmo com a inflação do grupo leite e derivados nos últimos doze meses (+ 2,2%) estando bem abaixo da inflação oficial (+ 5,2%), os dados de consumo disponíveis não são animadores, frente ao elevado crescimento da oferta. Apesar dos números positivos relacionados à renda e ao emprego formal no Brasil, as vendas no varejo têm registrado desaceleração nos últimos meses e a intenção de consumo das famílias também tem piorado. As taxas de juros altas e o elevado endividamento das famílias, com avanço da inadimplência, sugerem um cenário econômico pior nos próximos meses.
Os preços dos lácteos no atacado mantêm trajetória descendente para o leite UHT, a muçarela e o leite em pó. O mercado Spot também tem mantido um movimento de queda. Esse cenário tem colocado uma pressão de baixa nos preços ao produtor.
A boa notícia, em meio a todo esse cenário preocupante, vem do lado dos custos de produção. O ICPLeite/Embrapa registrou nova queda em setembro, de 1,1%. Os preços do concentrado, puxados pelas cotações mais baixas do milho e do farelo de soja no período recente, são os que mais têm contribuído para esse resultado. O farelo de soja que estava cotado a R$2.350,00/tonelada em outubro de 2024, entrou este mês abaixo dos R$1.700,00, enquanto o milho, que chegou a um pico de preço em abril de R$90,00 a saca, agora está cotado a R$65,00.
A conjuntura de mercado para esse final de 2025 é desafiadora, com os preços do leite ao longo da cadeia bastante pressionados em função da oferta elevada, devido à produção nacional e às importações, e um consumo interno fraco. Uma alternativa que seria o escoamento de parte da produção via exportações, tem ocorrido com volumes ainda marginais, devido a barreiras estruturais de diversas ordens como a falta de certificados sanitários e de licenciamento de plantas industriais, além de menor competitividade dos preços internos frente aos internacionais.
As informações são do CILeite.