Mastite: Como pequenas perdas diárias se transformam em grandes prejuízos

23-10-2025 15:55:42 Por: Cepea. Foto: Pixabay

Mastite: Como pequenas perdas diárias se transformam em grandes prejuízos
A incidência de doenças do úbere em vacas leiteiras é um fator que impacta a produção nacional de leite. Dentre as doenças, a mastite é uma das de maior ocorrência. Estudos apontam que, a depender da região do Brasil avaliada, este quadro em sua fase subclínica (quando não há alteração visível no aspecto do leite e/ou úbere dos animais) pode acometer até 48,6% do total de vacas leiteiras (Acosta et al, 2016), ao passo que, na fase clínica, acometeria até 2,6% do plantel.

As perdas decorrentes da mastite subclínica (MS) variam de acordo com a idade do animal, o estágio da sua lactação, a bactéria causadora do quadro, entre outros fatores. De forma geral, há uma perda de 0,18 a 0,88 litro de leite dia por teto afetado a depender do agente infeccioso (Gonçalves et al, 2018), com rebanhos leiteiros apresentando uma média de 46,95% de fêmeas positivamente diagnosticadas (Winckler, 2019). O mesmo estudo aponta uma distribuição entre 10,23% e 94,90% das fêmeascom quadros de mastite subclínica.

Para ilustrar os possíveis efeitos da mastite subclínica na margem do produtor, foram utilizados dados da propriedade típica de Uberlândia/MG, amostrada pelo Projeto Campo Futuro (CNA/Senar, em parceria com o Cepea). O rebanho da propriedade é composto por 22 vacas em lactação, com captação média diária total de 400 litros.

A propriedade, de acordo com dados atualizados para agosto/25, teve um COE de R$ 2,28/litro de leite e receita de R$ 2,38/l, levando a uma margem bruta de R$ 0,10/l.  Assumindo que o desempenho descrito é resultado de um rebanho sadio, a incidência de mastite em parte dele afetaria diretamente sua produtividade e, por consequência, a rentabilidade do sistema. Para se medir o potencial impacto, foram simulados diferentes cenários de diagnósticos positivos de MS e níveis distintos de queda na captação diária na propriedade avaliada, estimando-se, então, as perdas em termos de litros de leite que deixariam de ser comercializados.

Tomando como base os cenários mais comumente observados de mastite subclínica, com 30% a 60% de animais infectados, o que equivale de 7 a 13 vacas e perdas diárias de 1,08 litros por dia,com a média de um par de tetos afetados pela doença por vaca infectada, o impacto financeiro variou entre R$ 547,02 e R$ 1.015,89/mês.

Como referência, a cada vaca com diagnóstico positivo para mastite subclínica, o impacto na receita bruta mensal variou entre R$ 25,62 e R$ 128,11, a depender do nível de perda observado, reduzindo a margem bruta da propriedade avaliada entre 2% e 10%.

Com o avanço do quadro para a mastite clínica, o descarte de produção é de 4 a 6 dias conforme o protocolo adotado. No caso de Uberlândia/MG, a perda de produção resultante de um caso de mastite clínica seria de R$ 173,06 a R$ 259,60, além de R$ 80,00 a R$ 120,00/caso com medicamentos, variando com o período de tratamento.

Com os antimastíticos, perdas de receita com o descarte de leite para o controle de um caso de mastite clínica a cada dois meses (equivalente a 2,27% de incidência no rebanho por ano) e perdas produtivas com a mastite subclínica, o impacto anual da doença totalizaria de R$ 8.082,59 a R$ 14.468,25, reduzindo entre 55% e 98% a margem bruta da propriedade.

Com o alto risco que a doença apresenta tanto para a longevidade das vacas no rebanho, quanto para a produtividade dos animais, a principal forma de controle se dá pela prevenção e monitoramento. Os custos vinculados a protocolos de manejo da mastite tendem a não crescer conforme a produtividade do rebanho aumenta, fazendo com que a tolerância que determinada propriedade possui para a presença de mastite no rebanho diminua.

O custo médio de um pacote de insumos para acompanhamento e prevenção de casos de mastite na propriedade é estimando em R$ 19,61/cabeça mês, sendo composto sobretudo pelo consumo de produtos para higiene durante a coleta do leite.

O custo médio para prevenção e monitoramento da mastite, de R$ 235,30/vaca ano, foi entre 36% e 64% mais baixo em comparação aos cenários avaliados de potencial impacto da doença para a propriedade típica de Uberlândia/MG, evidenciando que a perda produtiva, por si só, já se demonstra como motivo suficiente para seu melhor manejo.

A incidência de mastite, além de impactar a produtividade do rebanho, também aumenta o nível de células somáticas no leite captado para a indústria. As empresas, ao fazer a avaliação de CCS (contagem de células somáticas), podem penalizar ou, até mesmo, se recusar a coletar o leite captado pelo produtor caso não atenda os parâmetros vigentes para a qualidade do leite (hoje definida como 500 milcélulas por ml de leite).

Apesar da existência de protocolos para controle da doença, destaca-se que o principal ponto de atenção para o produtor rural, no papel de gestor e controlador de processos, é garantir a correta aplicação de boas práticas de manejo peloscolaboradores responsáveis, sobretudo durante o momento da ordenha.

Ademais, com a existência de agentes infecciosos no ambiente que podem levar à quadros de mastite, as condições de umidade e higiene do local em que os animais permanecem são essenciais, não apenas para as vacas em produção, mas também vacas secas e animais (vacas ou novilhas) em período pré-parto.

Por fim, o treinamento de mão de obra sobre a adoção de boas práticas de higiene, além do manejo da ambiência das fêmeas do rebanho, são ponto chave para se garantir a segurança sanitária da propriedade leiteira. 

As informações são do Cepea.