Preço do leite ao produtor cai 19% em um ano e margens se comprimem
24-11-2025 16:03:52 Por: Natália Grigol, Boletim do Leite Cepea. Foto: Pixabay
Levantamento do Cepea, da Esalq/USP, mostra que, em setembro, o preço do leite cru recuou 4,2% frente ao de agosto, fazendo com que a “Média Brasil” chegasse a R$ 2,4410/litro – queda real de 19% em relação a setembro/24 (deflacionamento pelo IPCA de setembro/25). Trata-se da sexta baixa consecutiva nas cotações no campo, e o setor projeta que esse movimento de desvalorização se persista até o final do ano, tendo em vista que o mercado doméstico está bastante abastecido.
De um lado, observa-se crescimento consistente da produção ao longo de 2025. O ICAP-L (Índice de Captação de Leite) subiu 5,8% de agosto para setembro e acumula alta de 12,2% no ano, indicando forte ampliação da produção. De outro, as importações continuam elevadas. Dados da Secex analisados pelo Cepea mostram que, em outubro, as compras externas avançaram 8,4%, somando 214,73 milhões de litros em equivalente leite. As exportações, contudo, seguiram em queda, de 23,2%, totalizando apenas 4,55 milhões de litros em equivalente leite.
Essa abundância de oferta tem mantido o mercado saturado, já que o consumo cresce em ritmo mais lento e não consegue absorver os estoques elevados de lácteos. Pesquisa do Cepea realizada com o apoio da OCB mostra que, em outubro, o queijo muçarela, leite UHT e o leite em pó registraram desvalorizações de 4,08%, 5,62%, 2,9%, respectivamente no atacado paulista.
Nas indústrias, a combinação de custos fixos elevados e de baixa rentabilidade mantém o repasse de baixa aos produtores, agravando as tensões nas negociações. Muitos produtores relatam dificuldades para cobrir o custo de produção. E, de fato, a margem está mais espremida. Segundo pesquisas do Cepea, em outubro, o Custo Operacional Efetivo (COE) subiu 0,52% na Média Brasil, impulsionado sobretudo pela alta na ração. O poder de compra do produtor frente ao milho continuou deteriorado, com queda de 5,4% frente a setembro. Considerando a média parcial anual, foram precisos 27,7 litros de leite para adquirir uma saca de 60 kg de milho, 13% acima da média do mesmo período de 2024, de 24,5 litros/saca.
As sucessivas quedas nos preços podem provocar desaceleração gradual da produção, mas parte desse efeito tende a ser compensada pelo aumento sazonal típico da safra das águas, sobretudo no Sudeste e no Centro-Oeste. Assim, o volume deve continuar crescendo, mas em ritmo menor que o habitual, sugerindo início de ajuste na oferta. Contudo, uma recuperação mais consistente das cotações não é esperada no curto prazo: pode ocorrer apenas a partir do segundo bimestre de 2026, quando a oferta tende a recuar no Sul e o mercado pode reencontrar um novo ponto de equilíbrio.
As informações são do Boletim do Leite Cepea.

