Mastite bovina causada por Estafilococos Não-Aureus
29-08-2022 10:19:20 Por: Somaticell. Foto: Somaticell/Divulgação
Uma das famílias de patógenos que podem causar mastite bovina são os ENA (Estafilococos Não-Aureus). Muitas vezes chamados de "microrganismos oportunistas", eles vivem em áreas onde é fácil penetrar o tecido.
O que são os ENA‘s? A implementação de programas de controle de mastite bovina leva a uma redução na incidência geral de mastite clínica bovina na maioria dos rebanhos. Em alguns casos, a redução chega a 90%.
Animais mais suscetíveis - Vacas e novilhas podem ser infectadas com ENA antes do parto. Na lactação, a infecção por ENA é frequentemente associada ao aumento da contagem de células somáticas (CCS),o que causa prejuízos econômicos devido à penalidade no preço do leite.
A prevalência de mastite bovina pelos ENA‘s é maior em animais primíparas.
São geralmente infecções leves e limitadas a pequenos vestígios no leite devido a mudanças locais no úbere. Muitas dessas infecções podem até curar-se espontaneamente.
Mas às vezes animais com infecções intramamárias causadas por ENA‘s são observados com sintomas em um nível sistêmico e são animais com infecções persistentes que podem durar vários meses se as medidas não forem tomadas.
Como eles se comportam? Os microrganismos do grupo Estafilococos Não-Aureus, ENA, anteriormente chamados de estafilococos coagulase-negativa, são atualmente um dos principais grupos de agentes causadores de mastite em todo o mundo.
É possível isolar este grupo de bactérias gram-positivas em três locais principais: no leite, na pele da extremidade dos tetos e mais recentemente também isolou-se ENA nas fezes das vacas.
Existem mais de 50 espécies diferentes de ENA‘s e talvez seja um erro observar seu comportamento como um grupo e não como espécies individuais.
Embora não o considerem um grupo de bactérias tão patogênico quanto os principais patógenos que causam mastite, sua patogenicidade e resistência a tratamentos antimicrobianos varia dependendo da espécie de ENA‘s.
Alguns pesquisadores os consideram patógenos secundários do úbere, mas a importância das infecções intramamárias ainda são objeto de debate desde então.
Por outro lado, outras pesquisas lhes dão grande importância no desenvolvimento da mastite e aumento da contagem de células somáticas das vacas afetadas.
Melhores métodos de diagnóstico de mastite
Uma vez detectadas as vacas e quartos mamários com alta contagem celular, ou que apresentam sinais de mastite clínica bovina, as amostras de leite devem ser colhidas para posterior processamento em laboratório.
Entre outras técnicas, como identificação de PCR, ou a microbiologia é utilizada como método diagnóstico para descobrir o patógeno causador da mastite.
Essa metodologia inclui a semeadura usual em meios de crescimento específicos para os principais grupos etiológicos. Eles são incubados a 37 ºC, com leituras às 24 e 48 horas. “Baird Parker Agar” é uma cultura específica para Estafilococos. Permite diferenciar o ENA e o Estafilococos aureus.
Os Estafilococos Não-Aureus geralmente causam infecções leves e casos subclínicos de mastite em vacas leiteiras.
A identificação das diferentes espécies de ENA é importante para determinar sua patogenicidade e desenvolver práticas específicas de manejo para prevenir a mastite.
O problema é que a identificação desse grupo de organismos é difícil e cara. É por isso que muitos laboratórios não incluem a identificação de espécies de ENA em procedimentos de rotina.
Com o avanço das técnicas de diagnóstico, principalmente com o uso do MALDI-TOF, em vez de considerar o grupo ENA como um todo, atualmente é possível identificar com baixo custo as principais espécies de ENA em amostras de leite de vacas com mastite.
A mastite em vacas leiteiras causadas por ENA‘s tem as seguintes características:
• São geralmente infecções leves e causam casos subclínicos de mastite em vacas leiteiras;
• Aumento da CCS;
• Pode induzir processos clínicos persistentes que não respondem ao tratamento com antibióticos;
• A aparência do leite é geralmente normal, mas pode induzir infecções intramamárias com alterações no leite;
• Alta prevalência em animais primíparas (especialmente na época em torno do parto);
• Maior incidência de novas infecções no período seco das vacas;
• O estado geral do animal não é geralmente afetado, nem há sinais sistêmicos graves.
Melhores tratamentos contra Estafilococos Não-Aureus
Assume-se que a taxa de cura espontânea do ENA pode geralmente ocorrer. O ENA responde muito melhor à terapia antimicrobiana do que o Estafilococos aureus. Ademais, algumas espécies de ENA são suscetíveis a antibióticos que se utilizam comumente para tratar mastite.
O tratamento por terapia intramamária e durante o período de secagem é eficaz para o controle de infecções por ENA.
A tendência mundial é que o tratamento desta classe de bactérias com antibióticos desaparecerá em breve, como um aspecto rotineiro da pecuária leiteira, e as regulamentações europeias e a pressão da indústria leiteira forçarão os produtores a se concentrarem mais na prevenção, como uma pedra angular de um bom plano de manejo para a mastite bovina.
Incidência e prevalência de infecções por ENA: Quando são maiores?
A incidência de novas infecções é maior durante o período seco da vaca e antes do parto. Portanto, o percentual de quartos infectados é alto no momento do parto. A maior prevalência de ENA‘s é em animais primíparas em vez de em vacas maduras.
Infelizmente, muitos produtores acreditam erroneamente que suas novilhas são saudáveis, e a presença de mastite em vacas leiteiras não é observada até o parto. As novilhas representam a futura lactação e o cuidado com o úbere é fundamental para garantir a rentabilidade das fazendas leiteiras, por toda a vida produtiva das vacas.
Embora as infecções de ENA sejam geralmente leves, também se demonstrou que elas podem causar processos mais graves e persistentes, causando um aumento na contagem de células somáticas e uma diminuição na qualidade e produção do leite devido aos danos ao tecido mamário.
O que fazer quando identificar ENA na sua fazenda
Quando a maioria dos veterinários recebe os resultados de suas amostras de leite, eles frequentemente veem que o resultado do ENA (Non-aureus Estafilococos) voltou positivo. Eles tendem a considerar esse resultado positivo como algo normal, sem ter consciência de que esse tipo de infecções pode causar casos de mastite em vacas leiteiras.
Quanto mais sabemos sobre isso, mais confiantes estaremos quando se trata de interpretar resultados. Mas, principalmente ser capaz de decidir se uma infecção com essa família de bactérias é um risco que queremos correr.
Quando o ENA vem do ambiente?
Espécies como Estafilococos epidermidis, Staphylococcus saprophyticus, Staphylococcus simulans e Estafilococos warneri pertencentes à flora bacteriana normal da pele da mama, enquanto outras espécies como Estafilococos Xylosus e Estafilococos Sciuri parecem vir do ambiente.
Os Estafilococos podem colonizar a pele do úbere e outras partes do corpo de um animal. Verificou-se que há diferenças na patogenicidade de diferentes espécies de ENA‘s que são investigadas e identificadas por técnicas de diagnóstico molecular.
Há espécies com diferentes suscetibilidades antimicrobiana e diversos fatores de virulência de ENA isolados de amostras da mastite em vacas leiteiras.
Contaminação ambiental aumenta o risco de mastite por Estafilococos Não-Aureus?
Um estudo recente desenvolvido por um grupo de pesquisa da Bélgica buscou ampliar o conhecimento sobre os ENA em relação ao tipo de habitat (leite, pele da mama e fezes), o que poderia facilitar o entendimento sobre as formas de transmissão e importância das diferentes espécies de ENA como causa da mastite. O estudo envolveu a coleta de amostras de leite, pele dos tetos e fezes em 8 fazendas. Totalizando assim, um universo de cerca 1500 isolados de ENA. Os quais foram analisados pela metodologia de MALDI-TOF para identificação da espécie de Estafilococos.
Os principais resultados deste estudo indicaram que de um total de 22 diferentes espécies de ENA, foi possível identificar somente 9 em todos os três habitats dentro de cada rebanho (leite, pele dos tetos e fezes):
• Estafilococos arlettae,
• Estafilococos auricularis,
• S. chromogenes, Estafilococos cohnii,
• Estafilococos devriese,
• Estafilococos equorum,
• S. haemolyticus,
• Estafilococos hominis,
• Estafilococos vitulinus.
A presença destas espécies em todos os habitats pode sugerir um possível papel das fezes como fonte de contaminação dos tetos e, consequentemente, aumentar o risco de novos casos de mastite.
Em relação às amostras de leite, cerca de 33% foram positivas para ENA, sendo que em algumas fazendas este percentual atingiu 50% das vacas avaliadas. Quando foi feita a distribuição dos resultados das espécies de ENA de acordo com o local de coleta das amostras, as espécies que se isolaram em amostras de todos os rebanhos foram:
• Leite: Estafilococos chromogenes, S. haemolyticus, S. homini;
• Pele dos tetos: Estafilococos chromogenes, S. haemolyticus;
• Fezes: S. hominis, S. epidermidis, S. cohnii, S. haemolyticus.
Resultados da pesquisa
94% das amostras de pele foram positivas para ENA, mas algumas espécies somente tiveram isolamento ENA nas amostras coletadas antes da ordenha (p.ex., Estafilococos kloosii, S. lentus, S. saprophyticus), origem do ambiente; ou após a ordenha (S. agnetis, S. epidermidis), o que indica que houve a contaminação das mamas durante a ordenha.
Estes resultados indicam que o isolamento de S. epidermidis em vacas com mastite aconteceu pela transmissão deste agente pela contaminação do equipamento de ordenha, o que indicaria uma transmissão contagiosa.
Por outro lado, nas amostras de leite de vacas com mastite, Estafilococos chromogenes e Estafilococos haemolyticus foram as duas principais espécies de ENA identificadas.
Ainda que não seja possível considerar como definitivos, os resultados deste estudo reforçam a ideia de que o grupo dos ENA apresenta grandes diferenças de distribuição entre as espécies de acordo com o habitat que são isolados, o que pode ajudar a explicar o papel das diferentes espécies como causa da mastite ou como microbiota natural da pele.
Por exemplo, a alta frequência de isolamento de Estafilococos chromogenes em vacas com mastite e na pele das mamas de todos os rebanhos estudados é uma evidência da alta capacidade de adaptação desta espécie ao ambiente do úbere e como causa de mastite. Por outro lado, o Estafilococos equorum parece se adaptar mais ao ambiente. Enquanto Estafilococos haemolyticus apresenta um perfil oportunista. Pois é possível encontrá-lo em todos os habitats estudados, além de também pode causar mastite nas vacas leiteiras.
Você sabe se tem ENA‘s em sua fazenda? Ainda não?
Lembre-se que quanto mais você conhecer sobre o assunto, mais preparado você estará para combatê-lo. Assim, o primeiro passo é descobrir o que está impedindo você de atingir seus objetivos. Isto em termos de qualidade do leite significa também o controle da mastite bovina.
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