Células somáticas presentes no leite

10-05-2022 09:32:02 Por: Somaticell

Células somáticas presentes no leite
O leite é constituído, majoritariamente, por gordura, proteínas, lactose e células somáticas. As células somáticas no leite são representadas principalmente por duas classes de células:

• Células de descamação do epitélio da própria glândula mamária;
• Células de defesa (leucócitos) que saem do sangue para o úbere.
• Não há dúvidas que a contagem das células somáticas têm impactos diretos na qualidade do leite. 
• Isso porque, de acordo com os estudos realizados pela EMBRAPA, a contagem de células somáticas tem correlação direta com a composição do leite bovino.

O que são células somáticas?

De forma generalista, todas as células de um organismo multicelular se chamam de células somáticas, com exceção dos gametas (células reprodutivas).

Assim, as células somáticas representam todas as células do corpo que possuem o conjunto gênico completo, denominadas como diplóides.

Em relação às células somáticas do leite, em uma vaca sadia, são encontradas duas classes:

Células epiteliais - São provenientes da descamação da glândula mamária da vaca. Estas representam de 0 a 7%, podendo corresponder a até 20% do número total de células, dependendo do estágio de lactação e também da idade da vaca e número de lactações da mesma.

Células de defesa (leucócitos) - A principal classe de células somáticas presente no leite são as células de defesa, ou seja, os leucócitos (células brancas do sangue). 

A presença dos leucócitos no leite é um dos importantes mecanismos de proteção da glândula mamária. Além disso, podemos considerar como uma função de vigilância na glândula não infectada.

A maioria das células somáticas de defesa no leite bovino são:

• Macrófagos (65 a 80%);
• Linfócitos (10 a 25%); 
• Neutrófilos (0 a 10%).

Entretanto, o leite de uma glândula infectada tem mais de 90% de neutrófilos, que são as células essenciais para uma imunidade inata efetiva e são recrutadas nos sítios de infecção onde ingerem (fagocitam) e matam os patógenos invasores.Mas como essas células de defesa da vaca se transportam para o leite?

A passagem das células do sangue para o leite é uma consequência da inflamação do úbere (mama do bovino fêmea). Em geral, ocorre devido a uma resposta a infecções causadas por bactérias bem como outros microrganismos. 

Essa inflamação da glândula mamária é conhecida como mastite, ou mamite, e além disso, é geralmente desencadeada para destruir ou neutralizar as bactérias e suas toxinas. Assim, permite-se que a glândula mamária volte a desempenhar sua função normal de produzir leite.

Dessa forma, os leucócitos, que são as defesas, migram do sangue para o interior da glândula mamária, com o objetivo de combater os agentes causadores da mastite.

Como evitar a contaminação do leite por resíduos antibióticos?

Apesar de ser um grande desafio para os produtores, é possível prevenir essas situações com a adoção de boas práticas agropecuárias e cuidado no manejo e tratamento dos rebanhos.

Vamos conferir algumas formas de evitar índices maiores de resíduos antibióticos no leite:

• A primeira forma de evitar a presença de resíduos antibióticos no leite é através da criação de programas de controle de mastite bovina. Esse cuidado é essencial, pois a mastite é uma das doenças mais comuns em rebanhos;
• Respeitar totalmente as fases de carência dos antibióticos, seguindo à risca as orientações de cada droga veterinária também é indispensável para evitar resíduos;
• A separação de vacas sendo tratadas das vacas que estão saudáveis no momento da ordenha é fundamental para não ocorrer erros de identificação dos animais;
• Seguir os tratamentos de acordo com a orientação da bula das drogas veterinárias e evitar tratamentos não recomendados;
• Capacitar os ordenhadores sobre o manejo correto dos medicamentos nas vacas leiteiras;
• Analisar o leite para garantir a conformidade do leite com a legislação brasileira.

Em todas essas situações é possível encontrar resíduos antibióticos no leite, que podem afetar a segurança e a qualidade dos laticínios.

Escore de células somáticas (escore linear)

Para realizar a categorização da contagem de células somáticas do leite os produtores utilizam o escore linear. Esse padrão foi adotado desde 1982 pelo Programa Nacional Cooperativo de Melhoramento Genético do Gado Leiteiro (DHI), dos Estados Unidos. 

Esses parâmetros são de suma importância para compreender a relação das células somáticas bem como o resultado da produção de vacas e rebanhos.

A categorização por CCS do leite total do rebanho mostra que alterações de um pequeno número de vacas não interferem fortemente com o escore médio do rebanho.

Uma observação percebida é que a perda de produção de cada vaca em um rebanho com escore linear 3 era aproximadamente a mesma que a perda de uma vaca individualmente com escore 4.

Para a obtenção do escore são realizados cálculos matemáticos (transformação logarítmica). Assim, os valores de CCS (normalmente de vários milhares) são transformados em 10 categorias de 0 a 9. 

Veja na tabela abaixo a classificação dos escores em relação a contagem de células somáticas:

Células somáticas presentes no leite

Número normal de células somáticas

O leite de vacas sadias sem registro de infecções da glândula mamária conta com um pequeno número de células somáticas. 

Nesse cenário, o número é menor que 50.000 por mL. Ainda, alguns autores consideram que o leite de uma vaca sadia pode conter até 250.000 células somáticas por mL, levando-se em conta as características do rebanho, raça e número de lactações.

Essa tolerância é baseada no fato de que existe 80% de probabilidade de infecção na glândula mamária quando a CCS é de aproximadamente 280.000/mL. 

O fator mastite é o que se apresenta como consequência direta do aumento no número de células somáticas. Contudo, é importante salientar que outros fatores podem estar envolvidos na alteração da CCS. 

Dessa forma, se enquadram nesse evento a infecção intramamária, idade da vaca, estágio de lactação, estação do ano, estresse térmico, nível de produção, entre outros fatores.

Não há dúvidas que o aumento da CCS provoca alterações dos componentes individuais do leite e desse modo, tem efeito sobre a produção e a qualidade deste produto e de seus derivados. 

Ainda, são provocadas alterações nos principais constituintes do leite (gordura, proteína bem como lactose, balanço de sódio e potássio e concentração de cloretos, além da alteração do pH.

Para que serve a contagem das células somáticas?

A contagem de células somáticas é uma importante ferramenta na avaliação de diversos aspectos do rebanho, mas também do negócio. Entre eles, podemos citar o monitoramento na qualidade do leite, fertilidade, bem como o indicativo da estimativa de perdas quantitativas e qualitativas da produção.

A contagem de células somáticas (CCS) nem sempre indica que uma vaca está sofrendo uma infecção.  Essa conclusão é devido ao fato de que os tipos de leucócitos no leite variam com uma série de fatores. Assim, são incluídos na análise o estágio de lactação, época do ano, variação diurna, frequência de ordenha, e intervalos, número de lactações e o nÍvel de estresse do animal. 

O aumento da CCS indica uma resposta imune mais comumente ligado à infecção, no entanto, também faz parte dessa resposta imune e confere alguma proteção ao animal.

A CCS é expressa como a quantidade de células somáticas por ml de leite e pode ser utilizada como uma medida indireta ou indicador de saúde da saúde da mama. Isso porque a maioria das células somáticas é composta de células imunes que são produzidas em maior número por uma glândula infectada.

Nesse contexto, o monitoramento da CCS é extremamente importante, visto que a elevação contribui de forma negativa para o aumento dos custos, dentre eles, os decorrentes dos tratamentos com medicamentos, descarte de leite, alteração na composição do leite e perda da bonificação no pagamento do leite pelos laticínios. Vale ressaltar que o maior custo deste processo é justamente o custo do descarte do leite.

Ainda, em casos onde a CCS permanece elevada (> 200 mil células/mL) de forma crônica a tendência é de que a vaca tenha que ser descartada do rebanho, pela dificuldade de cura de infecções e a chance altíssima de reinfecções e de contágio de vacas sadias no rebanho. Dessa forma, esse é outro impacto negativo do aumento da CCS e que deve ser utilizado como um indicador de gerenciamento da qualidade do leite e da diminuição e controle de custos.

Qual o impacto das células somáticas na fertilidade bovina?

É certo que o aumento do intervalo entre partos afeta diretamente a produção das vacas de forma negativa. Por isso, os produtores buscam manter um ritmo mais acelerado para emprenhar as vacas o mais rápido possível após o período voluntário de espera, diminuindo o chamado "período aberto”.

O que as células somáticas descontroladas têm a ver com a fertilidade bovina?

Bem, diversos fatores que atrasam a nova prenhez das vacas durante a lactação, destacam-se imprecisão na detecção de cio, falhas na concepção e perdas de gestação. Nos dois últimos casos, a ocorrência de mastites tende a ser um grande influenciador.

Por isso, é de suma importância se levar em conta a saúde da glândula mamária também no tocante ao manejo reprodutivo. Isso porque os rebanhos com elevada incidência de mastites tendem a apresentar menor fertilidade e portanto maiores custos e menor rentabilidade na produção leiteira.

Estudos realizados pelo grupo GERAR Leite (Grupo Especializado em Reprodução Aplicada ao Rebanho) em 2020 demonstram que vacas com alta CCS apresentam menor fertilidade à IATF e à TETF, além de maior perda de gestação. 

Ainda, as vacas que apresentaram contagem de células somáticas menor ou igual a 200.000 células por mL de leite tiveram taxa de prenhez à primeira IATF 14% superior à de vacas com CCS entre 200.000 e 400.000 e 22,6% superior à taxa de vacas com CCS acima de 400.000.

Controle da contagem das células na lactação

É possível tomar medidas de prevenção e combate de infecções durante o período seco da vaca. Isto é feito para conter o aumento da contagem de células somáticas durante a lactação, bem como fazer-se uma terapia preventiva de mastites.

Assim, o produtor pode utilizar antibióticos intramamários de amplo espectro, que se destacam por sua eficácia contra agentes contagiosos, ou, contra agentes ambientais, fazendo uma proteção mais completa. Além disso, outro grande aliado no período seco é um selante químico que, de forma mecânica, bloqueia o acesso de micro-organismos à glândula mamária, ajudando no bloqueio de infecções e também sendo auxiliar na ação das terapias de vaca seca.

O médico veterinário é o profissional competente e legalmente habilitado para fazer este tipo de prescrição e ajudar o produtor nesta etapa.

Contagem de células somáticas (CCS)  como um indicador da qualidade do leite

Com as constantes exigências que são impostas para os produtores de laticínios, os mesmos têm buscado formas de medir a qualidade do leite, diminuir seus custos e aumentar a rentabilidade da produção de leite.

Dessa forma, esses produtores buscam realizar ações que garantam o enquadramento dos produtos lácteos na legislação para se manterem competitivos no mercado.

Assim, seria inviável melhorar a qualidade do cuidado com suas vacas se não tivessem uma medida eficaz para determinar mudanças positivas e negativas para melhorar a qualidade do leite.

Por isso, contar o número de células somáticas tornou-se o método padrão de medir a qualidade do leite. Portanto, a CCS é um dos principais indicadores da qualidade do leite em todos os locais do mundo onde existe uma atividade leiteira desenvolvida.

Os produtores utilizam como referência para indicar uma quantidade regular de células somáticas em uma vaca valores entre 50.000 e 100.000 por ml. Assim, quando este valor está acima do considerado normal (mais de 250.000) pode significar que o animal está contaminado.

Como vimos anteriormente, valores de células somáticas acima deste valor (mais de 250.000)podem alterar na composição do leite, afetando diretamente a qualidade do mesmo. 

A contagem das células somáticas (CCS) e o diagnóstico da mastite bovina

A mastite bovina é um processo inflamatório e infeccioso, muito comum que acontece na glândula mamária do animal. Ele traz grandes prejuízos para a qualidade do leite e uma redução significativa na capacidade de produção do animal.

As vacas que contraem a infecção ficam debilitadas e se não tratadas prontamente podem até mesmo ir a óbito. Mas o caso mais grave é a mastite subclínica, pois além de não ser detectável sem os indicadores adequados, ajuda a espalhar a doença pelo rebanho.

A mastite, ou mamite, como também a conhecemos, tem como causadores os microrganismos e suas toxinas, agentes químicos irritantes e traumas físicos.

Contudo, a causa mais comum e que acomete uma parte significativa do rebanho bovino são os microrganismos patogênicos. Eles chegam ao animal pelo canal da mama.

Assim, a inflamação que acontece na glândula mamária é uma reação do organismo tentando combater os microrganismos infecciosos para tentar retomar as funções normais do animal.

Todavia, esse processo pode causar outros prejuízos ao animal. Só para ilustrar: a destruição de células epiteliais que são responsáveis pela síntese de elementos fundamentais para a qualidade do leite, como a lactose e a caseína, ocasionando até mesmo o descarte do leite, que estará comprometido em sua composição e qualidade, por causa da infecção.

A presença de células somáticas no leite é normal, visto que fazem parte da composição, assim como proteínas, gorduras e lactose. Contudo, os níveis altos de células somáticas podem ser indicativos de infecção em uma vaca ou no rebanho inteiro. Nesse sentido, é de suma importância que o CSS seja feito no rebanho periodicamente.

Colunista

Somaticell

Soluções para controle de qualidade de leite e alimentos.